sexta-feira, 8 de abril de 2011

Educação: a utopia do sistema

O professor, Gustavo Bernardo, em seu texto “Ensino”, publicado no livro Redação Inquieta em 1988, aborda questões sociais, políticas e culturais que se relacionam à estrutura fechada do ensinar-aprender nas escolas. Argumenta no sentido de culpabilizar o Estado, a família e a escola (professores-alunos) da incapacidade e frustração do “ensinar-aprender a escrever”. Ele conclui com a afirmação do prazer em escrever, do desejo de escrever, ao invés da estagnação e conservadorismo que a sociedade reproduz nas escolas. No sentido de não estruturar o aprendizado, e sim torná-lo prazeroso.
O ensino retratado por Bernardo abarca noções superficiais e se atém ao encontro de responsáveis pela não “escrita coerente” dos alunos. Uma visão minimalista da linguagem, quando se pensa no alargamento do pensamento para “ensino” propriamente dito. O olhar crítico do aluno perpassa nos seus textos, nas suas redações, nas suas dissertações. Mas quando não existe uma discussão a fundo do assunto em debate, ou quando não há uma base sólida dos mecanismos de linguagem, a redação raramente se dará da forma exigida. Formal e estrutural.
Observamos, sempre, uma incoerência lógica e/ou argumentos vazios. Quando o critério é desenvolvimento. Porém, o critério “escrita” mecânica, normas gramaticais, mostra-se o principal agente fuzilador do desejo da escrita pelos alunos. As infinitas e ortodoxas regras impostas e marteladas constantemente nas aulas de português, em geral, paralisam a criatividade individual do aluno como ser pensante e crítico.
Nota-se também, como mencionado anteriormente, o viés crítico do aluno. Não basta ser um professor excelente, ter argumentos eficazes, não basta também o incentivo da família à leitura, ou um Estado ativo em suas melhorias para educação. A realidade é outra, é oposta. O Estado tem se tornado a cada dia mais omisso, inclusive, o governo Dilma começou com o corte de 3,1 bilhões¹ de reais destinados à educação, e os estudantes são as principais vítimas. O ensino tem se sucateado nessa mão pública. A família tem se mostrado na perspectiva do incentivo ao trabalho para ganhar dinheiro e ajudar nos gastos sem se preocupar ou focalizar numa educação de qualidade. São raros os pais que se interessam ativamente na vida escolar-acadêmica de seus filhos. Portanto, o eixo maior se concentra no próprio sistema econômico de que fazemos parte, o capitalismo, o qual se dá pela moral do discurso “vale tudo, o importante é se dar bem”. E o lucro, o dinheiro, é o mais importante. Os valores sociais, culturais e políticos estão completamente apodrecidos nesse sistema.
Assim, para a aristocracia brasileira está bom, o ENEM implantado como “vestibular” de federais e o acesso generalizado de pessoas às universidades públicas sem uma base sólida crítica-discursiva. O eixo não está no acesso à educação de “qualidade”, mas aos agentes necessários ocultados nesse percurso. O investimento adequado nesse setor: professores bem remunerados, condições viáveis de infraestrutura das escolas, incentivo a debates, entre outros motivos.
Mas é notório que a raiz podre do ensino não está vinculada a apenas um fator independente. A cultura, o sistema, o político, a relação entre pessoas, tudo se inter-relaciona e se torna dependente dos resultados observados sobre o ensino.
            Escrever com gosto, com apreço, com desejo, tem sua importância como frisa Bernardo (1988) em sua redação. No entanto, para despertar esse “apreço” a estrutura do ensino precisa flexibilizar e facilitar esse insight educativo de um modo crítico e real.


Francimeire Leme Coelho
Estudante de Linguística da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

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